Bukowski mora em SP

Não deviam ser nem cinco da tarde quando cheguei na avenida. 
Lá do outro lado vinha um senhor, camisa puída, calça social marrom, carregando umas sacolas de mercado. 
Ele ia atravessando fora da faixa, alheio aos carros que passavam a milhão. 
No meio do cruzamento começou a gorfar, continuou a atravessar a avenida o gorfo fluindo em jatos cor de laranja rançoso que pareciam restos do strogonoff do almoço.
Sem diminuir o passo, as pessoas observavam o velho se aproximar aos solavancos vomitando na camisa azul porteiro, nos sacos do mercado e finalmente no lixo encostado no poste da calçada. Alí ele se deteve alguns instantes, escorou e deixou escorrer os últimos vestigios do almoço mal digerido.
Limpou a boca com o antebraço e sem vacilar entrou no bar em frente, encostou no balcão e pediu uma dose de cachaça. 
Tive que admirar o velho! 

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